quinta-feira, 23 de abril de 2009

Eu já...

Hoje, numa comunidade extremamente ativa e divertida que faço parte, postaram um tópico chamado "eu já", com confissões do que já fez na vida e do que deixou de fazer.
Fiquei pensando: é hora deste blogueiro vagabundo confessar algo sobre si. E vou confessar muitas coisas do que já fiz, e recomendo aos meus leitores que contem as experiências de vida. Vamos compartilhar momentos, e ver quantas coisas já fizemos em comum.
Eu já fumei duas carteiras de cigarro por dia. Neste tempo, eu não conseguia nem respirar sem que saísse fumaça: se eu tomasse um tiro, pareceria uma chaleira. Parei.
Eu já tentei aprender a dançar forró duzentas mil vezes. Ainda hoje, residindo na Bahia, não consigo sair do velho "dois pra lá, dois pra cá", quando minha coordenação motora está muito boa. (Sem efeito de decepções e tristezas, movida a pura adrenalina).
Eu já me relacionei sem amar a pessoa. Foi péssimo. Terminei decepcionando muito quem eu não deveria decepcionar, culminando no fim de algo que poderia ser pelo menos uma amizade duradoura. Até hoje não tive coragem de dizer a ela o quanto a acho bacana e o quanto queria ser amigo dela.
Eu já cantei ópera, quando era pequeno, na frente de um colégio todo. Eu tinha sete anos de idade e resolvi cantar, cantar, cantar, num festival de música que teve. Enquanto todos os meninos ensaiavam os passos dos Backstreet Boys, eu vestia meu terno cinza com seis botões dourados - tinha personalidade o suficiente pra pôr uma roupa desta aos sete anos - e cantava como o futuro Luciano Pavarotti que não me tornei.
Eu já dancei na chuva com meus bons novos amigos. E cantei: "chuva, eu quero que caia devagar". Não fiquei resfriado e saí de alma limpa.
Eu já amei. Profundamente. A primeira vez, foi nos meus tempos de escola. Fui atrás de alguém, no meu segundo ano colegial, assumi um romance aos quatorze anos e fui firme. Quando fui abandonado e traído, chorei por um tempo, até que apareceu a segunda pessoa que me fez sonhar de novo. Sonhei, fui traído, chorei muito, tentei voltar, me humilhei duas vezes e não me arrependo. Quando achei que já tinha perdido a capacidade de sonhar, me apareceu outra pessoinha, faceira, do interior. Fui atrás. Nos conhecemos numa bela tarde, trocamos um beijo ali, na Rodoviária, e eu pensei: é ela que amarei até o final dos meus dias. Viajei 330 quilômetros, de ônibus, atrás dela. Amei profundamente e quase casei. Fui abandonado às vésperas do nosso casamento.
Eu já me tornei amargo. Quando fui abandonado pela terceira vez, prometi não amar de novo nunca mais. Chorei tudo que eu pude.
Eu já tentei me matar. Na dor do abandono, no mais profundo desespero, tomei trinta comprimidos de remédios - e vi a dor de minha mãe, que mandava eu vomitá-los desesperadamente. E vomitei. E não abandonei minha mãe, e tampoco minha vida, por alguém que não valia a pena - me desprezou, desprezou o meu amor e tudo que eu tinha para dar.
Eu já me recuperei de decepções. E prossegui minha vida. Continuei estudando, pra me tornar o mais brilhante pesquisador da área do direito - e mais modesto, também. Continuei trabalhando duro, pra me tornar um grande Capitão, um dia. Lutei contra toda a dor que as decepções me trouxeram, e prossigo vivendo, mesmo que vez ou outra brotem lágrimas nos meus olhos (porque homens choram também, e tão somente os grandes homens podem chorar!). E sinto que estou pronto para o próximo round, e sempre estarei.
Eu já aprendi a gostar de viver. A considerar a vida um grande jogo, onde nos tornamos perdedores ou vencedores a depender das nossas perspectivas. E já aprendi a desgostar também. Diversas vezes, um e outro. E é melhor gostar de viver, antes que a vida goste do nosso desgosto.
Eu já desisti de uma faculdade. Já decidi fazer várias outras. Já quis ser psicólogo, médico psiquiatra, aviador da marinha, veterinário, alto executivo e Presidente da República. Minha oftalmologista lembra que eu queria ser Presidente da República toda vez que a vejo, desde meus cinco anos de idade.
Eu já comemorei as vitórias do meu time inúmeras vezes. Disse, arrotando arrogância, em 2007, que meu time, o Internacional, era o melhor do mundo. E repito isso quantas vezes for preciso.
Eu já chorei muito por causa de futebol também. Todas as vezes que o Internacional deixou de ganhar, eu, como torcedor passional que sou, chorei!
Eu já fui enaltecido diversas vezes. Já fui excluído outras diversas. E assim levei a vida, sem problemas com os enaltecimentos ou exclusões.
Eu já vi o Presidente Lula de perto. Quantos o viram? Para uns pode ser bom, para outros pode ser ruim, mas o que importa é que eu poderei contar pros meus filhos: conheci um Presidente que mudou, para o mal e para o bem, a história do país onde vós viveis - se este país for o Brasil.
Eu já parti muitos corações. Já fiz muita gente sofrer.
Eu já fiz, também, muita gente sorrir em meus braços. E foram muitas vezes mais do que os corações partidos.
Eu já fiz amor dentro de um banheiro de shopping. Foi a maior maluquice que fiz. E os seguranças descobriram, e passei vexame muito grande. Eu rio disso até hoje quando eu lembro.
E querem saber? Não me arrependo de muita coisa (outras, me arrependo profundamente) do que fiz. Estas experiências me engrandeceram como homem e me deram um aprendizado ímpar de vida, que muita gente não tem com o dobro da minha idade.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ações para administrar um sofrimento de perda de um amor

Caros companheiros de jornada,

Como um irmão experiente vosso, venho ensinar-vos como lidar com o sentimento da perda de um amor - muito experimentado por mim, como quem bem me acompanha sabe, por muitas vezes. Este sentimento - o mais cruel de todos - que nos lota de vazio e nos acorrenta, nos dando a impressão de uma morte para a toda a vida, de uma paralisia eterna, completa e irrestrita porquanto perdure, pode ser vencido com uma série de medidas combativas que o Capitão Kohen, experimentado velho de guerra, tem a vos ensinar. Ei-las:

1. Ocupe-se!
Dedique o máximo do vosso tempo a não pensar naquele amor que vós perdestes. É uma tarefa difícil, mas pode ser feita através de uma medida muito simples: ocupação. Se percebeis ócio em sua vida - abrindo espaço para depressão e tristeza - ocupe o seu tempo com uma atividade livre: ler um livro de Goethe ou Schiller, que são de uma complexidade imensa, fazer um curso livre de teatro, se tiverdes dinheiro, são coisas úteis. Correr na Orla, também, é uma excelente solução.

2. Divirta-se!
Tente divertir-se o máximo possível no intuito de esquecer esta dor. Marque com as vossas amigas ou os vossos queridos camaradas velhos de guerra de ir tomar um chopp nas sextas-feiras, vá ao teatro, vá assistir um jogo de futebol no boteco... Divirta-se! Onde houver uma oportunidade maciça de diversão, faça!

3. Se valorize e pense mais em si.
Pense no quão maravilhosos vós sois e em quanta gente bacana no mundo existe. Bem sei que, se estiverdes nessa condição de "abandonado(a)", somente ele(a) serve-vos, mas muita gente ainda existe. Pense no vosso valor, na vossa beleza, e tente se tornar uma pessoa mais bonita. Invista no seu charme, na sua elegância (isso vale para os homens também), ganhe auto-confiança e se jogue no mundo.

Esses conselhos do Capitão Guilherme Kohen, duas vezes corno e uma vez abandonado na beira do altar, são utilíssimos. Dentro de um mês estareis mais revigorado que com trabalho de pai-de-santo.