quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A gênese da apatia

Minha mãe costumava a me ninar cantando "João e Maria", de Chico Buarque. Esta mesma música, que lembra de um herói de faroeste, com uma vida repleta de felicidade e que vivia um amor que se pode chamar de perfeito, em seu final, lembra-nos que tudo sempre tem um triste fim. Não compreendo porque ela me ninava com esta música: talvez seja porque a sanfona de Sivuca, nesta, toca muito bem, ou a melodia composta era, sinceramente, das mais bonitas. Não entendo se era uma forma dela dizer que a vida dela já não ia tão bem assim. Não importa, no final das contas. Importa mesmo é que isto refletiu no seio da minha vida futura, porque naquela época era impossível de refletir - ainda mais que eu não possuia um sistema cognitivo formado.
Eis que me vejo estranhamente bem e mal. Tenho ao meu alcance absolutamente tudo que quero. Escrevo bem como poucos, por mais que comentários anônimos e imbecis (que sei exatamente quem os escreve, afinal, porque meu Q. I. não é dos mais baixos) reflitam uma opinião que não condizem, sinceramente, com a realidade, minha ou de outrém. Possuo uma família, que à sua maneira, é extremamente carinhosa e hábil com as minhas variações de humor - que em verdade, já não variam tanto assim, haja visto que desde algum tempo, tempo este que se eu pudesse mesurar, iam para mais de onze meses - mesmo sabendo que meu pai não pode lidar com determinadas condutas minhas por ser suficientemente antiquado e possuir uma formação castrense, e minha mãe não pode coadunar com as reprimendas fora do contexto contemporâneo de meu pai. Possuo amigos bons como raras pessoas podem possuir - e digo mais, só não falo que tenho amigos como ninguém pode ter, porque sei que pessoas, por mais vis que sejam, possuem amigos fiéis para as horas dificéis, como já demonstrei outrora em outro texto. Contudo, não posso dizer que meu coração anda bem - não porque eu ande com meu coração magoado, mas simplesmente porque já não tenho coração. E talvez, a falta de um coração seja a gênese da minha apatia.
Muita gente não pode especialmente compreender o que se passa, mas foram muitos os joguetes amorosos ao qual fui submetido. Certa feita, depois de uma conversa um pouco áspera (pra não dizer que ela seria tipificada pelo Código Penal como crime de lesão corporal) com alguém que havia sido especial pra mim e seu novo alguém, percebi mais do que nunca como aqueles que já disseram ter amor podem, simplesmente, mentir. O namorado desta pessoa um tanto quanto sagaz me qualificou como psicopata. Oras, pergunto, que terá dito ela ao meu respeito? Terá dito que eu havia mentido sobre algo? Terá dito ela que a traí? A verdade é que não, e poucas eram as minhas falhas, além da minha exacerbada possessividade e as minhas variações de humor. A verdade é que ela era uma sociopata, como poucas pessoas poderiam ser, e não pode mesurar as conseqüências do que ela faz, para ela e para outras pessoas. E eu fui um dos afetados pelo seu transtorno social de humor. Sinto sinceramente muita pena do seu novo namorado, que por ora a ama, como não poderia deixar de ser entre dois namorados, e tão somente pode acreditar nela - e eu recomendo vivamente que ele o faça, porque não importa se a pessoa ama e confia, o que nós devemos fazer, se sentimos necessidade, é amar e confiar, apesar das conseqüências futuras disso, nem sempre muito boas.
Este não foi o único joguete amoroso de que me refiro. Fui traído algumas vezes, outras vezes enganado também, outras vezes traído e enganado. E entendo exatamente o porque disso. A explicação, única e verdadeira, que posso encontrar, é o fato de ser bom demais para as pessoas - para não dizer otário. Sou daquele tipo que larga o mundo para ser feliz com alguém, se compreender que com a outra pessoa (e não naquela pessoa, porque isso é deveras doentio) posso ser feliz e junto posso encontrar a felicidade. E, sinceramente, por ainda perfazer aquele típico romântico, que acredita que sozinho não pode chegar a muitos lugares, é que me encontro apático.
Não acredito mais na possibilidade de amar, principalmente porque todas as vezes que amei não fui correspondido. Não acredito mais na possibilidade de viver, porque acredito que uma vida sem paixão de nada vale. E, como não posso dar fim a essa minha vida - que não é medíocre, haja vista que muitas pessoas precisam de mim, quer seja dos meus conselhos (não os daqui, mas outros de última hora), quer seja do meu afeto -porque prometi continuá-la, não sei exatamente o que fazer. Se não posso dar fim, torno-me apático, porque já não se faz presente mais a esperança de dias melhores para mim, porque para outros espero e sei que chegarão.
Eu não sei sinceramente o que será de mim nos próximos tempos. Espero que eu pelo menos possa encontrar um alento na minha carreira, já que dinheiro e formação servem para alguma coisa. No fundo, eu sei que dinheiro não é o suficiente. O que eu preciso é amar e ser amado - e, para falar a verdade, eu não apostaria mais que amarei um dia, e tenho certeza de que nunca serei amado. Veremos os próximos capítulos, como numa novela de Manoel Carlos.

6 comentários:

Soneto Corpóreo disse...

e nisso tudo reside o eterno estranhamento
onde nem mesmo sentimentos
podem mais fazer sentido

prefiro seguir a vida
sentindo os meus sentidos
só assim a mesma ganha sentido

WikiRafa disse...

Todos dizem para seguirmos em frente. Para qual direção? Tenho a estranha sensação de que todas levam ao mesmo abismo.

Soneto Corpóreo disse...

eu creio que mesmo abismos podem ser atravessados se temos uma "ponte"

Anônimo disse...

"Sou daquele tipo que larga o mundo para ser feliz com alguém." Tibério sortudo.

Anônimo disse...

"...haja vista que muitas pessoas precisam de mim, quer seja dos meus conselhos (não os daqui, mas outros de última hora), quer seja do meu afeto..." Tibério levando vantagem não é? admita!

Nuno Coelho disse...

"E agora eu era o herói, e o meu cavalo só falava inglês..."

O Corão diz algo muito interessante:
"Sempre que Allah fecha uma porta, ele abre uma janela..."

Um abraço,
Nuno Coelho