quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Partes

E é de mim que tenho medo. Sobretudo nestas fases em que não estou em mim, anestesiado por não me ter. De repente me pego frente ao espelho cantando canções dos tempos em que uma voz grave e doce me acompanhava. E de repente percebo que esses meus passos vacilantes não levam a lugar algum: ando em círculos, parando aqui e ali, querendo pouso sem ter onde pousar, amarrado a uma corrente que me puxa rumo ao que já foi, não deixando ser o que deve ser fluir como um rio, sempre o mesmo, sempre novo. Liberdade, palavra de ordem, onde estás que não te encontro? Em que recanto escuro se escondeu dentro de mim? E então me lembro que parte de mim ainda está lá, preso e enfraquecido, naquele passado que pinga lágrimas nos meus olhos. E a outra parte, esta que hoje comanda os gestos que me fazem, está aqui, assustadoramente gozando o novo da vida nova e sentindo-se tão velho quanto velhos são os meus temores. E esses pedaços separados brincam de cabo de guerra, fingindo que não sabem que um outro, um terceiro eu, dorme sobressaltado, um olho aberto, outro fechado, aguardando a hora da corda arrebentar. Será que então, neste momento que enxergo azul, serei novamente inteiro como jamais fui completamente?

Um comentário:

Anônimo disse...

Porra, eu já ia colocar que esse havia sido o seu melhor texto e o que pareceu ser mais sincero, aí vejo que você não possui essa capacidade e que foi outro carinha... hauajsiayhauahaua