domingo, 18 de outubro de 2009

Do susto

Antes, imaginava que o grande amor da vida tinha morrido, partido, ou sei lá o quê.
Aí, saiu um dia pela madrugada em bares da cidade e se depara com uma cena: O grande amor da vida vivo, ali, beijando outra pessoa.
Juntou todos os sentimentos do mundo em um só. O afeto, amor, dedicação, carinho, ódio, desprezo, nojo... Tudo em um só sentimento.
E quem o conhece, tem medo do que possa dá essa junção de sentimentos. É, coisa boa não dá.
Aí ficou inerte, o corpo entrou em choque, em transe: será que é ele?
E era!
Os mesmos olhos, o mesmo cabelo, a mesma forma idiossincrática de jogar os cabelos e mover as mão. E o sorriso? Aquele mesmo sorriso maroto, ameaçador e convincente.
E resolveu checar realmente se não tava vendo coisas, se a mente e o coração, influenciados pelo álcool não estavam pregando alguma peça.
Não, não tava.
Ele continuava o mesmo, e quando viu que tinha sido descoberto, fez o máximo pra provocar: pegou a mão de outra pessoa, sorriu, e beijou a boca, de forma apaixonadamente.
E o outro lá, sofrendo.
Saiu cego, dirigindo em todas as direções da cidade. Chorando. Buscando algum conforto. E o máximo que encontrou foi um:
- Amigo, vá pra casa, tente dormir.
E fez o que mandaram. Chegou em casa, tentou dormir, mas, cadê o sono? Tentou esquecer, mas como? Sobrou os papéis, as recordações e o gosto pela escrita.


De tudo, ficaram três coisas:
a certeza de que ele estava sempre começando,
a certeza de que era preciso continuar
e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.

Fazer da interrupção um caminho novo.
Fazer da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sono uma ponte,
da procura um encontro...

(Fernando Sabino)




Um beijo para quem é de beijo, e um abraço para quem é de abraço.

4 comentários:

Nuno Coelho disse...

Caríssimo, ficou exata a descrição da reação.
Não poderia ficar melhor em palavras diferentes.
Um abraço,
Nuno Coelho

Soneto Corpóreo disse...

sentimentos são muito proximos
ao passo que realmente um amor pode virar odio

Nuno Coelho disse...

que seria o ódio senão fruto de amor não correspondido?

Tibério disse...

É, é quase isso Nuno.