quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O dia em que eu entrei no exército

"Assaz cretino sempre fui", costuma a ser meu bordão. Prova maior disto é que, graças à mesma pessoa filha da puta sempre mencionada - é, infelizmente, voltarei a te mencionar aqui por ora - eu estou no exército, sendo o mais nvo dançarino do conjunto do Village People. Sob promessas de um casamento, fui coagido a entrar para a instituição castrense do exército, convencer um coronel a me deixar tentar o Núcleo Preparatório de Oficiais da Reserva e assim fui, rumo ao desconhecido. Nem preciso me dizer que me lasquei.
Me lasquei porque o casamento que eu ia ter não rolou, todos sabem o porque - e graças a D'us que não houve, inclusive. Mas, me lasquei mais ainda, porque o exército é um tipo de decisão que não se pode voltar atrás: uma vez tomada, tomada está de vez.
Foi no início de fevereiro em que me apresentei na Junta de Serviço Militar. Muitas choradas, muitas conversas e consegui ser classificado para o Núcleo Preparatório de Oficiais da Reserva, com posterior apresentação num vinte e quatro de agosto daquele ano corrente. Não me importei, tudo que eu queria era casar e ser feliz com a pessoa que eu amava, dando-a um sustento digno e uma vida excelente, com as condições que o oficialato do exército proporcionar-me-ia.
Dispensado todo o bolodório que os prezados amigos já sabem, me apresentei no fatídico vinte e quatro de agosto. Cheguei às seis da manhã naquele quartel, um frio gelado vinha na espinha, com o medo de ter de servir. Eu pensava: "talvez se eu disser que não quero servir, eu tenha alguma chance". Lêdo engano.
Um soldado me recebeu na porta e colheu meu Certificado de Alistamento Militar. Fui encaminhado a um banco, repleto de gente fedorenta e estranha. Sentei e esperei, impacientemente, por uma hora e meia, até a hora que anunciaram meu nome. Levantei e formei uma fila.
Me informaram que fui dispensado da prestação do serviço militar. Fiquei radiante: pelo menos o último fardo que aquela relação desastrosa imputar-me-ia na vida seria descarregado, finalmente. Me encaminhei para a formação onde prestaria o juramento à bandeira, quando de repente, um tenente esbaforido veio da casa do caralho gritando meu nome. Atendi. Ele disse, em poucas palavras, tudo que eu mais temia ouvir: "você é considerado essencial ao serviço militar por possuir nível superior em andamento em direito. Venha para a outra fila".
Fudeu! Agora era hora de rezar pra que eu perdesse nos exames médicos.
O tenente conversou comigo sobre todas as minhas possibilidades, desde eu permanecer no Núcleo Preparatório de Oficiais da Reserva, até eu migrar para outra força (Marinha ou Força Aérea), sob pena de perder a patente de oficial e me tornar um mero praça. No dia seguinte, voltaria às quatro e quarenta em ponto naquele mesmo quartel para fazer uma bateria de exames de toda a sorte e saber realmente qual era o meu destino final.
No dia seguinte, voltei. Deveriam fazer dezesseis graus naquele fim de madrugada, mas me gelava a alma e cortava como se fossem dois graus. Fiz cara de mau, entreguei meu Certificado de Alistamento Militar ao sargento que estava na portaria e me encaminhei para uma fila, onde haviam vários dispensados do serviço militar que desejavam servir - e que viram toda a cena do tenente me chamando, e pra quem eu me tornei um verdadeiro ídolo, por ser considerado essencial. Fiz vários amigos, e eles me acompanharam até o fim do processo naquele dia: lhes ensinei, por exemplo, o que dizer à Junta de Seleção para ser escolhido.
Cheguei no exame médico. Me puseram só de cueca, junto com todos, e pulando de uma perna só. Achei verdadeiramente que aquele tenente-médico da marinha que nos pôs a fazer isso era um sádico, e disse: "deixe estar, seu tenente, que um dia virarei capitão e lhe fodo, seu escroque". Puxei um medidor de força, e descobriu-se que eu tinha a capacidade de suportar cento e setenta quilos (!) - o segundo colocado conseguia puxar cem. Um outro aspirante me mandou abaixar as calças e remexeu meu pênis de cabeça pra baixo numa verdadeira quase-masturbação, e constatou, definitivamente, que eu não tinha nenhuma doença sexualmente transmissível (meu urologista também sempre me disse, não precisava ser masturbado por um aspirante veado ¬¬). Depois, me vesti e fui fazer o exame de vista, coisa que fiz de óculos. :o)
Finda a bateria de exames médicos, fui fazer um teste de interesses. Provei, inocentemente, ao Exército Brasileiro, que eu tinha perfil para ser espião, pelas minhas escolhas no teste de interesses. Depois, fiz um teste de lógica - do qual, quem não acertar deverá receber a alcunha automaticamente de débil-mental. Me encaminhei, junto com todos os novos amigos, para os mesmos bancos cheios de gente fétida e estranha (ah, eles já não eram a gente fétida e estranha de antes) e começamos todos a conversar e nos aconselhar.
Depois, nos chamaram pra fazer o temido BCC: Bateria de Classificação dos Conscritos, aquele que, a depender do teu desempenho, pode te colocar pra ser um carregador de pedras do batalhão. Me dei extremamente bem no BCC, apesar das questões que envolviam mecânica de carros e de telégrafos, e fui levado para uma sala onde eu faria mais uma vez uma entrevista.
Na entrevista, avacalhei geral. Disse que era contra as drogas; disse que fui um eterno católico apostólico romano praticante; disse que era um antiquado homofóbico. Tudo isso, claro, pra não ser obrigado a virar um soldado lavador de banheiro, uma vez que eu seria obrigado a servir o exército graças à merda que eu fiz, motivado por vós-sabeis-quem.
No final das contas, veio o carimbo: "Se apresente no quartel no dia tal para receber seus novos uniformes, jurar a bandeira e receber instruções". Eu já sabia: naquele momento, Lúcifer estava assando pãezinhos especiais na sua confeitaria para mim.
E assim, foi o que D'us quis. Eu no exército.

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