sábado, 29 de agosto de 2009

A história de François e Alexandre - um conto triste

François e Alexandre nasceram com o destino unido, apesar de distante. François Fernando nasceu em Garibaldi, na Serra Gaúcha, destinado a trazer tristezas pro mundo: seus pais, estudantes de história da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, largaram tudo por culpa da gravidez de sua mãe, Maria das Graças, e foram para Garibaldi, onde o pai, seu Fernando, seria funcionário do Banco do Brasil. Seus pais quiseram lhe dar um nome francês pra soar engraçado. Alexandre Frederico nasceu em Ilhéus, na Bahia, destinado a procurar um eterno amor: seu pai era capitão da Marinha do Brasil e sua mãe, uma professora da universidade local. Seus pais quiseram lhe dar um nome grego, pra soar grande.
François, logo cedo, se mudou para uma cidadezinha chamada Canela, também na Serra. Lá nasceria a sua irmã, Márcia, e o seu irmão, Giosué. Alexandre Frederico rodou o mundo com seu pai marinheiro e sua mãe professora, até que um dia, seu pai foi mandado pra Porto Alegre, pra ser Capitão-dos-Portos. Tem um irmão, Miguel, dois anos e onze meses mais novo.
François era de uma família judia sefardita muito tradicional em sua cidade, e logo começou a frequentar a Juventude Israelita local. Alexandre, apesar de católico, nunca se ligou muito em religião - pra ele, tanto fazia.
François se descobriu gay muito tarde. Beijou o primeiro menino aos dezessete anos. Enquanto isso, só ficava com meninas - não sabia se por indecisão ou por medo de encarar a família. Nunca encantou verdadeiramente ninguém que descobrisse de verdade quem era. Alexandre se descobriu gay muito cedo. Beijou o primeiro menino aos onze, namorou o primeiro aos quatorze, e deixou um amor em cada porto que passou.
François passou no primeiro vestibular logo. Foi estudar engenharia mecânica na Universidade Federal de Santa Maria. Alexandre passou também nos primeiros vestibulares cedo: o primeiro, foi do tão sonhado curso de medicina, que logo abandonou, na Federal do Rio Grande do Sul. O segundo, foi no de economia, numa certa Universidade Presbiteriana Mackenzie, pra onde zarpou, com emprego certo pra São Paulo.
François abandonou cedo o curso de engenharia mecânica. Retornou pra Canela, para a vidinha medíocre de ajudante de balcão no grande armazém que seu pai, seu Fernando, tinha. Alexandre cansou da vida de São Paulo, também, e voltou pra Porto Alegre.
François não tinha amor a nada. Alexandre tinha depressão.
François, ainda que nunca admitisse, era chegado em beber e cheirar pó - tirando a parte de destruir a vida de pessoas. Alexandre admitia que gostava de se drogar, mas tentava parar: a sua única preferência eram seus cigarros, da marca Camel.
François, um dia, resolveu juntar-se a um grupo na internet de jovens gays. Alexandre já fazia parte e era um grande líder entre eles: estava com passagem marcada para Curitiba, onde conheceria um menino, chamado Pablo. Antes de partir para Curitiba, Alexandre e François se conheceram, com a intenção de trocarem figurinhas da cena gay gaúcha.
Em Curitiba, nada deu certo para Alexandre, e eles só sentiam mais vontade de se conhecer. Quando chegou em Porto Alegre, marcaram de se encontrar. Se encontraram.
François pensou: esse é o pato perfeito. Alexandre pensou: esse é o par perfeito.
François usou uma frase de Caio Fernando Abreu. Alexandre usou uma frase sua.
Iniciaram um namoro, cada um com uma vontade diversa. François queria experimentar o uso de alguém a maior prazo para depois jogar fora. Alexandre queria um amor para a vida toda, e pensava ter encontrado em François.
François era um sociopata. Alexandre era um parafílico.
François queria ter a inteligência e o carisma de Alexandre. Alexandre queria ter François pra si.
Alexandre foi até Canela, um dia, para visitar François. François lhe prometeu casa. Alexandre foi forçado a ficar no hotel, pelo jogo de François. François lhe prometeu o mundo. Alexandre não teve nada. François lhe pediu para entrar na Marinha do Brasil, para que pudessem se casar, já que eram dois jovens e não tinham dinheiro. Alexandre, de pronto, aceitou.
François fez concurso para a Universidade Federal de Santa Catarina, para se ver livre de Alexandre. Alexandre fez concurso para a Escola de Sargentos da Marinha, para se ver perto de François.
Quando Alexandre passou no concurso, François decretou que a sua brincadeira estava terminada e acabou o namoro (e o mundo de Alexandre). Quando François passou no concurso, Alexandre tentou dar os parabéns a François e dizer: "eu ainda estarei aqui, cara".
François sumiu no mundo. Alexandre o procurou.
François riu com toda a situação. Alexandre tentou se matar enforcado e não conseguiu.
François foi para a Universidade. Alexandre tornou-se um Sargento da Marinha.
François continuou sendo estudante da Universidade Federal de Santa Catarina. Alexandre foi transferido para o porto de Florianópolis.
François procurou Alexandre, quando o viu na rua, e disse que tudo havia acabado. Alexandre lhe disse que ele não perdia por esperar.
François não sentia nada. Alexandre só sentia ódio.
Alexandre armou para François. François não percebeu a armação de Alexandre.
François perdeu todos os seus amigos. Alexandre ganhou muitos amigos.
François perdeu sua casa. Alexandre comprou uma nova casa, com seu alto salário da marinha.
François entrou em depressão. Alexandre entrou em júbilo.
Alexandre lhe ofereceu uma corda. François se enforcou.
Alexandre disse que seu destino estava cumprido. François e ele se uniram, na morte.

4 comentários:

Tibério disse...

Alexandre deu uma de babaca, querendo ficar com François na morte. Mas, gostei do enredo. :D

Nuno Coelho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
fabio ferreira disse...

ficção...sempre me pergunto se existe mesmo isso

Anônimo disse...

ficção meu caro fabio, existe. Por mais que embasados na realidade, pois o que é ali posto nunca vai ser de fato o que existe no mundo 'real', é sempre simulacro.