quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Melhor ser um solitário que assim se sabe

A solidão, vira-e-mexe, é sintoma da falta de saco. O solitário não tem saco pra procurar um pretexto pra ligar. O solitário não tem saco pra procurar um pretexto pra dizer o velho amém tripo do "oi-tudo-bem?". O solitário simplesmente não tem saco pra tua falta de coragem de dizer "oi, eu sinto vontade de lhe dizer oi". O solitário não tem saco pr'aqueles três beijinhos direita-esquerda-direita da bochecha, sem que tenha sentido fazer isso.

Mas isso não quer dizer que o solitário seja solitário por opção. A opção é dos outros, que preferem seguir suas vidas como se os solitários não existissem, como se os solitários não fizessem diferença. E é esse o grande problema: os solitários fazem toda a diferença. Aquele solitário poderia ter sido o teu mais novo amigo-de-infância-dos-últimos-cinco minutos. Ele poderia ter escutado teu choro e ter dado risada contigo. No fundo, o solitário é menos solitário do que tu és: o solitário se sabe na solidão e continua a empurrando com a barriga como se ela não existisse. Tu, não percebes o vazio da solidão que tens, ao perceber que não tem com quem olhar a lua e ligar às duas manhã só pra dizer: "eu estava pensando em ti agora. Gosto muito de ti". O solitário pode ser ele mesmo dentro de sua solidão; tu, sequer podes sê-lo, porque tens um mundo pra fingir que estás acompanhado-e-muito-bem. No fundo, talvez valha a pena a falta de saco do solitário - a ele, ficou poupado o sofrimento da decepção ao perceber que tu não podes desnudar-se de tua carapuça e tornar-se humilde a ponto de reconhecer tua própria solidão e perceber, afinal de contas, que deixou de ter o amigo mais fantástico que existe.

No final das contas, sempre é assim: as melhores pessoas estão trancadas dentro do seu próprio mundo, dentro de sua própria solidão. E as piores, estão aí, sem perceber que fingem conhecer o mundo - acreditando em sua própria mentira - quando na verdade, são incapazes de descer a seu próprio recanto.

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