terça-feira, 25 de outubro de 2011

A opção de se tornar um stalker

Antes de mais nada, queria dizer que é muito bom estar voltando ao meu cantinho, ao meu diário.

Depois de quase dois anos morando nesta cidade nova e linda - Petrolina - eu não conheço muita gente, ainda. Tirando pelas caminhadas na Orla, onde é inevitável encontrar ao menos um conhecido que te diga "oi-tudo-bem?-e-você?", não tenho muito com quem falar. Graças ao isolamento, por mais que você não seja um anormal ou um psicopata, é inevitável que você repare em algumas pessoas.

Desenvolvi o passatempo de observar as pessoas na cantina da faculdade ou no shopping, na portaria do condomínio, em todos estes lugares. Me tornei um stalker involuntário - de tanto não ter o que fazer, e de tanto observar, termino sabendo muito sobre as pessoas. Chegou num ponto em que, por exemplo, examinando minhas recordações, sei dizer que Caio, Tício e Mévio são bons amigos que gostam de jogar futebol juntos no sábado, tomar uma cerveja, mas tem interesses diversos; que Fulano tem uma namorada, mas é gay, tem um namorado também, que ambos não sabem; que Siclana adora fotografia, estuda psicologia, fuma escondido e bebe todos os sábados na Orla; que Beltrano lê Sidney Sheldon, adora ouvir Pitty, e não come carne por nada no mundo.

Consigo dizer isso sem nem ter trocado uma palavra. Termino conhecendo as pessoas por osmose, nesse processo de isolação. O ruim disso? Sei sobre todos, mas ninguém sabe de mim. Os poucos que repararam na minha existência, por aqui, tem uma impressão puta errada. A mera impressão que as pessoas dessa cidade têm é que sou um forever alone, e mais nada. De com quem parou pra conversar comigo, já ouvi:
a) Você é muito sério. As pessoas tem medo de você;
b) Você fica absorto nos seus pensamentos, e por mais que queiram falar com você, ninguém gostaria de lhe interromper.
Nessas horas, me dá vontade de mandar neguinho às favas. Oras, quanto à a): quem é que ri sozinho? Quanto a b): como não ficar absorto nos meus pensamentos (ou na verdade, stalkeando as pessoas), se ninguém repara que você existe?

Ser um stalker é uma opção pra não bater a solidão. Aos meus amigos que leem isso aqui, mas também são forever alone, fica a dica: se tornem stalker também. Com o tempo, você desenvolve uma diversão solitária até melhor que a masturbação - e de quebra, tem a opção de se sentir um Hercules Poirot (ou um inspetor Jacques Clouseau, se você for atrapalhado) da vida.

Comece observando, reparando nas pessoas, quando você não estiver fazendo nada e quiser matando o tempo. Com o passar dos dias, você passa a perceber do que elas gostam, como se chamam, o que fazem da vida... Embora você tenha de se controlar profundamente pra não querer conhecê-las mais de perto, pra não trocar uma palavra sem pretexto - a menos que você queira ser chamado de louco, porque aqui não é Salvador, pras pessoas darem "oi" sem se conhecerem e virarem amigos de infância em cinco minutos -  vale a pena, pela diversão.

Nessas horas, eu sinto saudade de Salvador, onde eu não precisava ser stalker e podia dialogar. Contudo, a opção de ser stalker tem sido bem divertida.

Um abraço do velho capitão!