quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uma ode ao que desconhecemos de nós dois.

Penso naquele cigarro que não fumamos, naquela cerveja que não tomamos, naquelas duas ou três palavras que não trocamos, naquele beijo-no-rosto que não demos, naquele livro que não comentamos. Pior. Naquela crença que não compartilhamos, naquele olhar que trocamos e que não passou de um olhar, na completa ignorância tua de quem eu sou, e no vasto conhecimento meu de quem tu és. E daí, percebo que estou pensando por pura preguiça de ir lavar uma roupa, de varrer a casa, ou de escrever um artigo científico.

E daí, percebo que não fumamos aquele cigarro, não tomamos aquela cerveja, não trocamos aquelas duas ou três palavras, não demos aquele beijo estalado na bochecha, não comentamos aquele livro, não compartilhamos as crenças, os olhares, justamente porque eu não sou ninguém - e tu, meu d-us, também, porque só ficou no plano do pensamento.

Mas daí, penso que aquele cigarro poderia ter sido muito mal-tragado, e aquelas duas ou três palavras poderiam ter sido ásperas, ao invés de confortáveis; que aquele beijo poderia ter sido bem como o do Judas; que aquele livro poderia ter nos semeado a discórdia - e melhor que não tenhamos o lido juntos, porque assim, não discordamos, não interagimos, não nos conhecemos. Teria valido a pena se tudo isso acontecesse, mas foi bom termos nos poupado do simples dispêndio de energia. Ao menos, me rendeu mais um texto pra posteridade. A ti, de lucro, veio a manutenção da sanidade por mais vinte minutos, posto que sou assim: amado ou odiado, mas sempre por um tempo mais rápido do que o que leva uma gota pra se desmanchar no chão. Te veio neste bolo, também, a sorte de não ter lido isso: assim, não perdes a fascinação ao descobrir que sou um péssimo escritor.

Um comentário:

Nuno Coelho disse...

Péssimo escritor?
Modéstia ou sandice.